terça-feira, 7 de junho de 2011

MANIFESTO DO POETA

Quem disse que poesia tem que ter rimas? Que para ser poeta tem que seguir regras? Que tem que ser bem criticado?

Para ser poeta, ou para estar poeta, como queiram, basta querer escrever, sentindo o que se escreve e procurar agradar somente uma pessoa, na minha maneira de ver, a si mesmo.

Claro, assim me parece, que deve ser algo que te toque, que venha de alguma parte do seu coração, da sua alma, da sua essência, não precisando nem ser do “ fundo do coração”, do “fundo da alma”, como diriam alguns mais exigentes, podendo ser até mesmo da superfície, desde que seja da sua, algo seu, que se não fosse você, não existiria, ninguém tomaria conhecimento.

Não precisa saber recitar nem fazer parte de alguma Academia de Letras.

Poeta que se sente poeta, ou mesmo escritor que se sente escritor, tem que andar com um caderninho, com um bloco de notas à mão, pra escrever quando vem a inspiração, pra não deixar escapar esses momentos de criação, senão corre o risco de , tal como eu agora, quando escrevia estas linhas, ter que escrever em qualquer pedaço de papel – que a gente sempre dá um jeito de achar- , em pedidos de restaurantes, guardanapos de bares, versos de notas fiscais e ... quem sabe- como último recurso , se o único disponível no momento- até num pedaço de papel higiênico ( limpo, claro...) !

Um bloco de notas à mão na ...???... - ( irrecuperável, esta palavra rabiscada freneticamente, no pedaço de papel que tinha disponível, tal a pressa com que escrevia, enquanto almoçava)-...pendente no pescoço , só retirado nas horas do banho e de outras intimidades ! Um momento, uma idéia, uma inspiração pedindo pra ser escrita, não deve ser deixada de lado, sob o risco de se perder, de se esquecer, daí esta sugestão, de um bloco sempre à mão ter! ( rima feita ao acaso, sem querer).

Muitas vezes, palavras duras sairão, até “sujas” poderão dizer alguns críticos de plantão – que sempre à espreita, estarão. Mas procurar eufemismos nessas horas, seria ferir o chamado de dentro, a chama que insiste em procurar seu oxigênio pra queimar, que clama pra ser escrita, pro mundo se expor.

Rilke ( Rainer Maria Rilke, grande poeta da lingua alemã, do início do século passado ), recomendava , em suas “ Cartas a um Jovem Poeta” ( obra póstuma,1929) , para seu discípulo não escrever poesias sobre o amor, porque...,...,...!! E reflito eu, questiono eu, se me permitam a ousadia de Rilke questionar : “...mas por que , Rainer, não escrever sobre este tema, se este tipo de chamado, no momento, fôr o que estiver querendo desabrochar?"

Como impedir uma planta de nascer , uma árvore de brotar, um filho parir ? Por medo de críticas? De lugares-comuns? De mesmices? Mas a quem estaria querendo agradar , o poeta romântico, senão à sua(seu) amada(o) e a si mesmo? E , se por ventura, o objeto dos seus versos, das suas linhas, seu feito não apreciasse, pelo menos a si mesmo teria sido fiel, expressando seus sentimentos. E isso já teria sido motivo suficiente para tê-lo escrito, já teria valido a pena. Se ao restante do mundo agradasse também, ótimo, mais algum dinheiro no bolso, mais tempo pra escrever.

Mas, se tal não acontecesse – o suce$$o(?)- , continuaria o poeta , o escritor, romântico ou não, a escrever. Curtindo cada linha, cada palavra delineada, pelo simples prazer de tal empreitada estar fazendo.

Um poeta, escritor, deve simplesmente apreciar a jornada e, tal como gerar um filho, ficar contente pelo prazer de ter a oportunidade de tal obra fazer, admirando-a com seus olhos, coração e alma, como se fora a mais bonita, sublime e divina coisa que pudesse estar fazendo naqueles momentos !

Beto Guzzo- 24/05/2011