sábado, 27 de novembro de 2021

A MULHER IMAGINÁRIA(?) INVISÍVEL

          

    Ele a viu, pela primeira vez, numa mostra de arquitetura, numa “Casa Cor” dessas que teve, já faz alguns anos. Ela chamou sua atenção pela beleza, pelo charme e, naquele momento, nem lhe passou pela cabeça maiores interesses. Ele estava num relacionamento muito bom, mas ela lhe despertou algo mais, uma certa e diferente atração, talvez fosse a palavra certa– será que ele olhava pra tudo quanto era mulher bonita assim? ...ou aquela, em especial, tinha algo mais ...?  Guardou pra si apenas a sensação de mais um desses momentos de admiração, de contemplação...assim pensava na época...ou, ao menos, achava que assim pensava!

O tempo passou e ele nunca mais a viu, embora ouvisse falar dela – pois arquiteta renomada na cidade. Lembrava, vagamente, de ter esbarrado com ela, na praia, num desses verões maravilhosos, numa badalada praia da cidade. Ao chegar na praia, ela estava de saída com sua filha pequena e não estava acompanhada – na época ele, que estava "single", recém-saído do seu último relacionamento, prestava mais atenção nestes detalhes...! Trocaram um cumprimento rápido, por educação, do tipo “...oi, tudo bem...”, fruto, talvez daquele contato lá trás na tal mostra de arquitetura, quando conversaram um pouco sobre o projeto que ela apresentava e ficou a sensação de que já se conheciam.

As águas rolaram, amores novos vividos e encerrados, e eis que ele a acha, mais uma vez, só que, agora, na “Rede”, na “Web”, numa dessas redes sociais digitais, no Instagram.  Passou a ver seus “posts”, passou a “segui-la”, se tornando apenas mais um dos seus mis seguidores – ela publicava muita coisa dela e da sua filha, assim como várias dicas de decoração e também publicações  sobre projetos de arquitetura e outras de cunho pessoal, sobre momentos de lazer em casa e também fotos de  viagens. Ele curtia e fazia breves comentários e esperava que ela o seguisse de volta – o que não aconteceu, para sua frustração. Ele também tinha um perfil no Instagram, onde publicava mais fotos e, eventualmente, algumas prosas – fotógrafo amador que era e, autointitulado, aprendiz de escritor!

Esperava, com o tempo, que alguma relação – ao menos de amizade - se desenvolvesse. Chegou a ser um pouco contundente – vencendo uma certa timidez - convidando-a para um café, um almoço na beira da praia– tudo por mensagens – sendo elegantemente recusado. Pensou em desistir do contato, mas algo o impedia de fazê-lo e assim continuava, enviando “likes” , “ emojis” , curtidas, pras suas publicações nos “ feeds” e “ stories” do Instagram. Terminologia desses tempos modernos da cultura digital!

Mais recentemente ao comentar uma de suas publicações – um vídeo de uma bela paisagem- descobriu que ela morava no seu bairro, até bem próximo da sua casa.  Mas como podia ser isso, se nunca – quase nunca, pois uma única vez a viu de carro pelas suas redondezas- a via pelo bairro, pensou, intrigado. Tinha até certa certeza que ela moraria num outro bairro bem distante, pelas fotos que publicava, e que o fazia lembrar de uma outra praia da cidade. Ao compartilharem comentários sobre fotos de uma bela noite de lua cheia, descobriu que sim, ela morava bem perto da sua casa.

Intrigado, pensava como tal coisa seria possível se nunca a vira, nem num Super, nem numa Farmácia, nem nos Cafés, nem nos restaurantes do bairro, nem nas praias por perto, nem andando por aí e nem dando uma volta de “ bike” na ciclovia do bairro e nunca nem mesmo  chegou a cruzar de carro por ela – o que, certamente, teria notado. Chegou até a perguntar pra ela – sempre por mensagens – como assim? Ao que ela lhe respondeu que , “ ...praticamente não saio, não circulo por aí, fazendo tudo em casa ...” (?) . Ou será que ela saia e usava uma capa que a tornava invisível, começou a   voar na sua imaginação!

Isso, ela deve ter aquela capa das historinhas de filme de ficção científica, que quando veste, a torna invisível e ela pode sair por aí sem ser notada, pensava. Só podia ser isso, pois ele morava no bairro, desde que chegou na cidade –vindo do Rio - há muito, muito tempo e mais especificamente naquela vizinhança há quase 20 anos e nunca a via por perto. Bem, provável que ela tivesse se mudado há pouco tempo – era uma curiosidade que iria tentar sanar. Já havia descoberto (?), numa dessas trocas de mensagens,  que o tal outro lugar das fotos do seu Insta era, realmente, numa outra praia, o apartamento onde ela  morou antes de se mudar pra esse bairro onde ele morava, conjecturava.

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Ele tomou coragem e a convidou, mais uma vez, para sair e fazer algo juntos – já que ela comentou que estava sempre muito ocupada, o tempo todo praticamente em casa e, parecia,   “desligada“ do mudo exterior! Fazer uma trilha inusitada, tomar um café especial, almoçar num lugar diferente, etc., etc., ..., chegou a fazer uma listinha de coisas interessantes e diferentes pra ver se ela se interessaria! E mais uma vez (sic),  recebeu, de forma educada e elegante, uma bela recusa...! Tststs...! O placar lhe era bem desfavorável: 0 x 2 ... e ainda no primeiro tempo!

Bem, o que fazer? Pensava com seus botões ...! Ele estava com essa curiosidade e vontade, muito forte de querer conhecê-la melhor. Ao vivo e a cores, pois só a conhecia (?) de vista e pelo Instagram, pelas suas publicações e pelas poucas mensagens que tiveram chance de trocar!

Não sabia se a “transformava” em personagem de um romance ainda a ser escrito, pra esquecê-la de vez – sugestão de um escritor que ele leu em algum lugar, sobre como se esquecer de uma mulher que não te corresponde; se continuava com esse contato digital (Instagram), e imaginando-a invisível quando saísse por aí, com sua capa mágica ou se..., se ... – faltavam-lhe palavras pra decidir o que fazer, pois tarde da madrugada já era quando pensava sobre tudo isso.

Pensou – antes de parar pra dormir um pouco- que, talvez, fosse tudo imaginação sua desde o começo dessa história. Que ela tivesse sempre sido a "Mulher Maravilha" apenas nos seus sonhos, imaginária e invisível com a sua capa mágica, o tempo todo. Que aquele momento na mostra “Casa Cor “ nunca tivesse ocorrido e que o encontro fortuito na praia tivesse sido também fruto da sua imaginação. E que toda essa história de segui-la no Instagram e até essas poucas trocas de mensagens relatadas, parte do enredo do seu imaginário.

Quem sabe melhor assim, para, pelo menos, dormir em paz...pelo menos hoje, agora!

 

P.S.: esse relato é uma ficção,  criação desse aprendiz de escritor  e qualquer semelhança com fatos e personagens reais , pode não ser mera coincidência !

 

terça-feira, 2 de novembro de 2021

AMIZADES

 

Não deveríamos deixar perder as amizades, cair no esquecimento confianças conquistadas, sentimentos alimentados com pureza que só os amigos reconhecem.

Não deveríamos esquecer aqueles momentos eternizados, que o tempo e a distância nos pregam peças e transformam em meras lembranças, em "me lembros de longe”, em fotos amareladas, algumas rasgadas, outras perdidas.

Amizades que valem ouro e, no entanto, são tratadas como algo que um dia tivemos, que gostaríamos de ter mantido, mas que deixamos o vento levar, o tempo apagar, segurando apenas umas poucas daqueles tempos, que insistem em ficar...ainda bem !

Tempos que não voltam mais a não ser nas lembranças, nas viagens da mente, nos sonhos, nos devaneios da imaginação, no horizonte de um dia de chuva.

Algumas verdadeiras amizades, embora não regadas como flores nobres de um jardim, que tanta atenção deveriam receber, deixadas de lado, mesmo assim, como que perdoando essa pequena grande falta, como que entendendo que esses amigos só têm andado muito ocupados, muito atarefados, ficam só adormecidas, prontas para serem novamente colhidas, nutridas, queridas.

Felizes daqueles que percebem o jardim que têm a seu alcance, a um só lance, a um só chamado, a um toque de telefone de distância, às vezes do outro lado do mundo, às vezes logo ali, ao virar a esquina, do outro lado da rua, na porta vizinha, muitas vezes até bem pertinho, sentado naquele cantinho que só os amigos sabem achar.

Mas por que, então, sou tão relapso? Por que não avanço um passo, atravesso a rua, pego o carro, o ônibus, o avião ou pelo menos o telefone ou o computador com seus e-mails a jato e atravesso esse espaço que me isola do tesouro que um dia garimpamos, descobrimos, que um dia construímos , que um dia vivemos ...!

Por quê?