Ele a viu, pela primeira vez, numa mostra de arquitetura, numa “Casa
Cor” dessas que teve, já faz alguns anos. Ela chamou sua atenção
pela beleza, pelo charme e, naquele momento, nem lhe passou pela
cabeça maiores interesses. Ele estava num relacionamento muito bom, mas ela lhe
despertou algo mais, uma certa e diferente atração, talvez fosse a palavra
certa– será que ele olhava pra tudo quanto era mulher bonita assim? ...ou aquela,
em especial, tinha algo mais ...? Guardou pra si apenas a sensação de mais
um desses momentos de admiração, de contemplação...assim pensava na
época...ou, ao menos, achava que assim pensava!
O tempo passou e ele nunca mais a
viu, embora ouvisse falar dela – pois arquiteta renomada na cidade. Lembrava,
vagamente, de ter esbarrado com ela, na praia, num desses verões maravilhosos,
numa badalada praia da cidade. Ao chegar na praia, ela estava de saída com sua
filha pequena e não estava acompanhada – na época ele, que estava
"single", recém-saído do seu último relacionamento, prestava mais
atenção nestes detalhes...! Trocaram um cumprimento rápido, por educação, do
tipo “...oi, tudo bem...”, fruto, talvez daquele contato lá trás na tal mostra
de arquitetura, quando conversaram um pouco sobre o projeto que ela apresentava
e ficou a sensação de que já se conheciam.
As águas rolaram, amores novos vividos
e encerrados, e eis que ele a acha, mais uma vez, só que, agora, na “Rede”, na
“Web”, numa dessas redes sociais digitais, no Instagram. Passou
a ver seus “posts”, passou a “segui-la”, se tornando apenas mais um dos seus
mis seguidores – ela publicava muita coisa dela e da sua filha, assim como
várias dicas de decoração e também publicações sobre projetos de
arquitetura e outras de cunho pessoal, sobre momentos de lazer em casa e também
fotos de viagens. Ele curtia e fazia breves comentários e
esperava que ela o seguisse de volta – o que não aconteceu, para sua frustração.
Ele também tinha um perfil no Instagram, onde publicava mais fotos
e, eventualmente, algumas prosas – fotógrafo amador que era e,
autointitulado, aprendiz de escritor!
Esperava, com o tempo, que alguma
relação – ao menos de amizade - se desenvolvesse. Chegou a ser um pouco contundente
– vencendo uma certa timidez - convidando-a para um café, um almoço na
beira da praia– tudo por mensagens – sendo elegantemente recusado. Pensou em
desistir do contato, mas algo o impedia de fazê-lo e assim continuava,
enviando “likes” , “ emojis” , curtidas, pras suas publicações nos “ feeds” e “
stories” do Instagram. Terminologia desses tempos modernos da
cultura digital!
Mais recentemente ao comentar uma de
suas publicações – um vídeo de uma bela paisagem- descobriu que ela morava no
seu bairro, até bem próximo da sua casa. Mas como podia ser isso, se
nunca – quase nunca, pois uma única vez a viu de carro pelas suas redondezas- a
via pelo bairro, pensou, intrigado. Tinha até certa certeza que ela
moraria num outro bairro bem distante, pelas fotos que publicava, e que o fazia
lembrar de uma outra praia da cidade. Ao compartilharem comentários sobre fotos
de uma bela noite de lua cheia, descobriu que sim, ela morava bem perto da sua
casa.
Intrigado, pensava como tal coisa seria
possível se nunca a vira, nem num Super, nem numa Farmácia, nem nos
Cafés, nem nos restaurantes do bairro, nem nas praias por perto, nem
andando por aí e nem dando uma volta de “ bike” na ciclovia do bairro e nunca
nem mesmo chegou a cruzar de carro por ela – o que, certamente,
teria notado. Chegou até a perguntar pra ela – sempre por mensagens – como
assim? Ao que ela lhe respondeu que , “ ...praticamente não saio, não
circulo por aí, fazendo tudo em casa ...” (?) . Ou será que ela saia e usava
uma capa que a tornava invisível, começou a voar na sua
imaginação!
Isso, ela deve ter aquela capa das
historinhas de filme de ficção científica, que quando veste, a torna invisível
e ela pode sair por aí sem ser notada, pensava. Só podia ser isso, pois ele
morava no bairro, desde que chegou na cidade –vindo do Rio - há muito, muito
tempo e mais especificamente naquela vizinhança há quase 20 anos e nunca a via
por perto. Bem, provável que ela tivesse se mudado há pouco tempo – era uma
curiosidade que iria tentar sanar. Já havia descoberto (?), numa dessas
trocas de mensagens, que o tal outro
lugar das fotos do seu Insta era, realmente, numa outra praia,
o apartamento onde ela morou antes de se mudar pra esse bairro onde ele
morava, conjecturava.
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Ele tomou coragem e a convidou, mais
uma vez, para sair e fazer algo juntos – já que ela comentou que estava
sempre muito ocupada, o tempo todo praticamente em casa e,
parecia, “desligada“ do mudo exterior! Fazer uma trilha
inusitada, tomar um café especial, almoçar num lugar diferente, etc., etc.,
..., chegou a fazer uma listinha de coisas interessantes e diferentes pra ver
se ela se interessaria! E mais uma vez (sic), recebeu, de forma educada e elegante, uma bela
recusa...! Tststs...! O placar lhe era bem desfavorável: 0 x 2 ... e ainda no
primeiro tempo!
Bem, o que fazer? Pensava com seus
botões ...! Ele estava com essa curiosidade e vontade, muito forte de querer
conhecê-la melhor. Ao vivo e a cores, pois só a conhecia (?) de vista e
pelo Instagram, pelas suas publicações e pelas poucas mensagens
que tiveram chance de trocar!
Não sabia se a “transformava” em
personagem de um romance ainda a ser escrito, pra esquecê-la de vez –
sugestão de um escritor que ele leu em algum lugar, sobre como se esquecer de
uma mulher que não te corresponde; se continuava com esse contato digital (Instagram),
e imaginando-a invisível quando saísse por aí, com sua capa mágica ou
se..., se ... – faltavam-lhe palavras pra decidir o que fazer, pois tarde da
madrugada já era quando pensava sobre tudo isso.
Pensou – antes de parar pra dormir um
pouco- que, talvez, fosse tudo imaginação sua desde o começo dessa história.
Que ela tivesse sempre sido a "Mulher Maravilha" apenas nos seus
sonhos, imaginária e invisível com a sua capa mágica, o tempo todo. Que aquele
momento na mostra “Casa Cor “ nunca tivesse ocorrido e que o encontro fortuito
na praia tivesse sido também fruto da sua imaginação. E que toda essa história
de segui-la no Instagram e até essas poucas trocas de
mensagens relatadas, parte do enredo do seu imaginário.
Quem sabe melhor assim, para, pelo
menos, dormir em paz...pelo menos hoje, agora!
P.S.: esse relato é uma ficção, criação desse aprendiz de escritor e
qualquer semelhança com fatos e personagens reais , pode não ser mera
coincidência !
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