Meu saudoso tio Wilson, irmão do pai, que morava em Niterói, costumava dizer que só aqui em Campos, tem uma área urbana em que se consegue sentir essa " fresca" que sopra do litoral, como se estivéssemos à beira da praia. Ele se referia ao "famoso" vento nordeste que, principalmente agora no verão, nos brinda com suas belas e frescas rajadas, como em nenhum outro lugar, para uma cidade que não esteja situada bem no litoral, à beira-mar.
Campos dos
Goytacazes, ou simplesmente Campos para os mais "íntimos" tem essas
coisas. Coisas que só por aqui se acham. Tem esse vento nordeste, tem as
pequenas padarias com suas rosquinhas amanteigadas, bolo Amélia e doces de
banana, além da famosa goiabada cascão, que na realidade, as melhores são
feitas no município vizinho de São João da Barra. E claro, os mais famosos
ainda, "Chuviscos" (docinho à base de ovos, em forma de uma gota de
chuva) - em calda ou cristalizados- que iguais aos daqui não existe em
nenhum lugar do mundo - palavra de Campista ! Tanto que nas grandes festas de
casamento no Rio de Janeiro (300 km daqui), os chuviscos de Campos são presença
certa, além de demais docinhos, também especialidades das muitas doceiras da
cidade.
Mas volto a falar do
vento nordeste. O município de Campos, com cerca de 4 mil km2 - o maior do
Estado do Rio - é localizado numa grande planície, a Planície Goytacaz, o que
facilita a entrada do vento que quase sempre sopra neste litoral. É muito
gostoso sair andando pela cidade, a pé mesmo ou de bicicleta, pelas suas
tranquilas ruas, apreciando ainda o que resta dos casarios e prédios do início
do século passado e até mesmo do século retrasado. Muita história pelas ruas da
cidade, pena que pessimamente cuidado e desprezado. Mas mesmo com os descuidos
de quem deveria cuidar, alguns ainda insistem em sobreviver e continuam nos
brindando com todas suas belezas e recordações. E sempre com o gostoso vento
nordeste refrescando nossos corpos. O vento aqui – ao contrário dos ventos da
região sul – quase não fazem barulho, praticamente não silvam e, silenciosos,
nos proporcionam admiráveis momentos de frescor.
Aqui na nossa casa, situada
à rua dos Goytacazes (ou rua do Gás), temos um corredor aberto, do lado
esquerdo da construção pra quem olha da rua, que termina numa entrada que dá
para uma área de estar onde tomamos café, e bem em frente à porta, temos um
antigo sofá, disputado pelos moradores da casa – e visitantes da família – que
pega o vento “encanado” neste corredor, bem de frente e torna o lugar , um dos
mais, senão o mais fresco da casa, tal a intensidade e gostosura com que esse abençoado vento nordeste ali
chega, na temperatura perfeita, refrescando sem provocar nenhum frio. A “siesta”
pós-almoço ali, nos transporta para as casas de praia em Grussaí ou Atafona, as
2 praias aqui perto, onde costumávamos passar os verões desde os tempos de
infância, onde nosso pai, todos os anos alugava alguma casa. Nunca tirei uma
soneca tão gostosa- não estando na praia- como as que ali tiro, aliás, coisa (dormir um pouquinho pós
almoço) que só faço quando aqui venho para visitar minha mãe e irmãos, pois
moro fora desde os tempos de cursinho de vestibular.
Enfim, só vindo a Campos –
ou ir até as praias daqui de perto- e deixar o vento nordeste te achar pra
poder sentir o que aqui tentei descrever. E ser quiser conhecer o “sofá-encantado-do-vento-encanado-da-casa-da-rua-do-Gás”
... bem aí, não sendo da família ou do nosso círculo de amizades, só se tivemos
a graça de algum dia nos conhecermos.
Carpe Diem!
Campos dos Goytacazes, 5 de janeiro de 2022
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