sábado, 13 de abril de 2013

No Clarinho do Supermercado

Ao ver meu nome na tela o Caixa brincou – Carlos, como Carlos Drummond de Andrade, o escritor, alagoano(?)...!-
(Bem, o Drummond, era mineiro, nascido em Itabira, segundo sua biografia,mas, deixei rolar...Será que existiu um outro Carlos, escritor também, do Alagoas ?)

Fiquei, de certa forma, espantado(preconceito...tststs), com tal comentário. Uma pessoa, que aparentava ( somente aparentava) pouca ( quanta pretensão, eu ter essa imagem...tststs) cultura, fazer referência a um dos nossos grandes escritores do século XX, o grande poeta e cronista CDA! Tubo bem, que puxou o CDA, lá pra cima, mas - pensava eu- será que eu o corrigia? Falava com tal entusiasmo, que resolvi deixar pra lá e, desculpe-me Drummond, mas, pelo menos, por alguns minutos você se tornou alagoano...!

Indaguei, meio perplexo, enquanto ele passava minhas compras, pelo seu leitor de código de barras:

- Conhece, então o grande Carlos D Andrade ?-
- Sim, grande alagoano(?), assim como eu. Eu sou de lá, sabia ? – disse , orgulhosamente.
O sorriso do jovem, do alto da sua simplicidade, me impressionou e resolvi arriscar a pensar que ele realmente conhecia o CDA, só errando ,um pouquinho, suas origens. Assim, provoquei :

- Gosta de poesias ? Já leu livros do CDA ?

- Conhece “...(?).......” ? - Rebateu de volta, me dando uma sinuca, citando um nome de um livro que nunca tinha ouvido falar. Talvez, fosse, realmente um outro Carlos, escritor, mas ...! De qualquer modo, agora, quem começava a se sentir com pouca cultura, era eu ...!

- Esse não, mas já li muitos outros, muitas crônicas, gosto muito- , retruquei.

Elogiei sua terra natal, por onde, por coincidência, tinha acabado de passar por lá, pela primeira vez, há cerca de 1 mês.
- Linda cidade , Maceió. E Pajussara, que praia linda.! - , comentei.
- Pajussara,Pajussara..., é só alegria, alegria...-, falou, de volta, mostrando seu largo sorriso , e, com certeza, satisfeito de ter encontrado , ali, por breves minutos, um companheiro de bate-papo, com interesses em comum.
- E Cecília Meireles, conhece também ? - Volta a me provocar ( assim , pensei, por instantes ).

- Sabia que ela era órfã ? – Me dando mais uma sinuca...!
(Cecília Meireles, foi realmente uma filha órfã, criada pela sua avó! Bingo pro Caixa!)

- Bem, não conheço muito sobre a vida dela, somente li alguns dos seus poemas, é uma das escritoras da minha lista, ainda a ser explorada – respondi, de forma entusiástica, já, a essa altura, super contente de estar conhecendo o Wedson, um dos Caixas do supermercado Imperatriz, ali, na Mauro Ramos aqui de Floripa.
E começou, novamente a disparar, seu conhecimento de nomes de nossos escritores:

– E Cruz e Sousa, catarinense ?-
– Bem, este , claro, já ouvi falar muito, já li sobre, mas nunca li nada de sua autoria – respondi ,meio envergonhado , agora, da minha ignorância em termos de literatura catarinense.
- E você, já ouviu falar do Mário Quintana ? Este é um dos meus favoritos , conheço bastante coisa dele- falei, agora eu, também, com um certo orgulho !
– Ah, claro – disse o Wedson- já ouvi falar, mas não li, ainda , nada dele !-
- Bem, este, recomendo mesmo. Vale muito a pena -, disse .
Bem, as compras tinham chegado ao fim. Foram só 2 garrafas de vinho, incrível, mas tivemos bastante tempo, para o nosso bate-papo, sem que se formasse fila . Somente uma pessoa, apareceu naquele caixa, já quando eu encerrava e pagava , passando meu cartão. Parece que o universo conspirava ali, para que aquele breve e proveitoso encontro se realizasse.
E lá fui eu embora da minha experiência de compras, com um Caixa de supermercado, amante de literatura, e que , pelos seus largos sorrisos, pareceu ter curtido muito nosso bate-papo!
Confesso que, do alto dos meus preconceitos – que imaginava não ter ...tststs- jamais imaginaria ter esse tipo de conversa, logo com um Caixa de supermercado... “quantos, preconceitos, ocultos, carregava...” pensava com meus botões!.
Mas ali, não estava um Caixa qualquer! Tive a sorte de encontrar –mesmo que por poucos minutos – o Wedson, alagoano, que pegou emprestado pra sua terra natal, o mineiro Carlos Drumond de Andrade. Wedson, amante das letras, tal como CDA! Êta , Caixa arretado, cabra da peste!!

4 comentários:

Carquejamus, escriba, profeta, sobretudo mentiroso disse...

Tu me surpreendes.
Arretada.

Carquejamus, escriba, profeta, sobretudo mentiroso disse...

Tu me surpreendes, nunca te imaginei escrevendo. Não que não tenhas ou tivesses o potencial, nada disso, apenas te imaginava mais dado à vida ao ar-livre.
Excelente.
Feliz Natal.

Anônimo disse...

Gostei, conseguisse passar a essência do momento... Tão singelo e tão significativo, pois não? heheh

Gustavo

Beto Guzzo disse...

Valeu amigos, pelos comentários!